sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"K" no CCVA

Espectáculo "K, A grande muralha da China" conto de F. Kafka, será apresentado no dia 24 de Novembro às 21.30h no Centro Cultural da Vila das Aves aproveitem a oportunidade!


K
Encenação e interpretação: Amândio Pinheiro
Assistente de encenação: Laura Nardi
Desenho de luz: Filipe Pinheiro
Vídeo: João Leal
Produção: CAUSA

Kafka emprestou a letra K do seu apelido a muitos dos seus protagonistas: Joseph K em “O processo”, Karl Rossmann em “América”, e simplesmente K em O Castelo.

“A Muralha da China” é o conto de Kafka que empresta ao espectáculo “K” um impressionante relato daquilo a que hoje chamamos “recursos humanos”, porém a uma escala tal que transforma os homens numa espécie semelhante a formigas obreiras e diligentes, controlados por entidades poderosas por todos conhecidas mas invisíveis, inomináveis e sobretudo inacessíveis.

A ideia central deste relato é o infinito burocrático e a subordinação, dois dos temas mais presentes na obra de Kafka. Um ex construtor da muralha decide pôr-se uma serie de perguntas, contando não só a própria experiência enquanto operário (fazendo luz sobre as sombras da própria tragédia) mas também conjecturando teorias sobre o sentido – ou falta dele – de uma obra como a grande muralha.
Dois tempos contraditórios, que no final confluem e se harmonizam; o primeiro, o imenso tempo de construção da muralha que dura séculos e que não pode ser vista na totalidade dada a sua extensão; o segundo, é o tempo do individuo, a unidade, o ex-construtor que se propõe saborear o divino, ao tentar compreender o que é maior que ele.
A pergunta “Porquê construir a muralha?” dá origem a uma sequência: quem são os nossos dirigentes? Que sentido tem o império chinês? A simples tentativa de resposta “fará vacilar não só as nossas consciências mas pior ainda, o solo sobre o qual caminhamos” adverte o protagonistas.
Responder individualmente por uma só vida, é já um mistério; responder por uma inteira nação – por dezenas e dezenas de gerações – é em Kafka um domínio teológico.
A China durante mais de 1700 anos construiu esta Muralha pondo em movimento toda a sua força de trabalho: no apogeu da construção foram utilizados contemporaneamente mais de três milhões de trabalhadores, cerca de 40% da população total.
Pode parecer absurdo, mas é historicamente consequente e provado, ninguém conhece verdadeiramente as razões que levaram dezenas de imperadores a ordenarem ininterruptamente a construção. Toda a capacidade técnica chinesa, não só a nível de engenharias e arquitectura, mas principalmente a nível administrativo e burocrática, empenhou-se nesta obra.

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